segunda-feira, 22 de agosto de 2011

ex-rotina.


Nossos cacos eu deixei espalhados pelo chão ainda úmido da cozinha, tentei esconder vestígios de você, qualquer semelhança, perfume, palavras deixadas. Tudo em vão. Me lavei de forma a não sobrar mais nada, sangrei para me certificar que nada mais era seu. Sua cadeira de balanço ainda balançava levemente, e em seus movimentos sua força ainda era deslocada. A parede que pintamos já descascava, e gargalhava ironicamente ao meu coração. O palito de Fósforo caído queimado atrás do fogão. Nossas brincadeiras doces jogadas no fundo do criado mudo. Suas palavras que sempre me embriagavam. Em cada deslize, seu nome soava, era cantado pelo vento, pelo som mecânico do liquidificador antigo. Tudo que construímos conspirava a fim de me lembrar que por mais que eu tentasse, você ainda estava lá, em cada canto. Seus passos, seu suor, seu toque, seus remendos, o eco de suas risadas e falsas juras. Por mais que eu mentisse, metade de mim ainda suplicava e era você.

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